O Congresso Internacional de Pesquisa (Auto)Biográfica (CIPA) é um fórum internacional de debates em Educação sobre pesquisas realizadas com narrativas biográficas e autobiográficas, abordadas sob três enfoques: enquanto disposição humana para narrar a vida, como método de pesquisa qualitativa e como dispositivos de pesquisa-formação.

O IX CIPA se realizará na Universidade de Brasília, de 21 a 24 de setembro de 2020. A exemplo das edições anteriores, o Congresso se propõe a reunir pesquisadores universitários de diferentes países, pós-graduandos, graduandos, professores, membros de associações científicas nacionais e internacionais, com vistas a debater avanços   teórico-metodológicos, difundir a produção científica, intercambiar práticas de formação e modos de articulação entre diversas áreas do conhecimento, que investigam o humano, com base em narrativas da experiência vivida.

A temática do Congresso, “Narrativas em tempos incertos: democracia, memórias, utopias”, interroga como as narrativas da experiência vivida, em tempos de incertezas, situam as pessoas e coletividades nacionais e internacionais face as atuais conjunturas sociais, econômicas, ambientais, culturais, religiosas e políticas que se configuram no cenário global e nacional na contemporaneidade.

O contexto político, marcado por novos arranjos e retomada de práticas sociais e políticas neoconservadoras, tem implicado formas outras de desconstrução de políticas sociais que negam as diversidades e diferenças, impactam sobre direitos universais e deslocam as identidades para modos outros de enfrentamento cotidiano de ações de apagamento da memória e da história, da preservação do patrimônio memorial e imemorial, da cultura e das identidades. Narrar é resistir, narrar é fazer emergir das experiências dimensões do não esquecer, narrar é construir utopias, é defender a memória, a cultura, a diversidade e singularidade dos povos e suas identidades.

O tema do congresso busca responder às interrogações do saber do senso comum, o de comunidades científicas, coletividades locais, regionais, nacionais e internacionais, face aos embates atuais entre narrativas hegemônicas e narrativas de resistência, cujo poder, ampliado pela web, põe em cena as falsas notícias (fake news) e as informações legítimas, o medo, as ameaças, a consciência de conquistas a zelar e a propor. Mais do que nunca, o poder da narrativa, enquanto fenômeno antropológico, social e histórico, torna visível o que é possível fazer com elas: embaçar ou aguçar o olhar; desfocar ou focalizar perspectivas; apagar ou reavivar a memória; pôr em dúvida ou legitimar o conhecimento científico, os direitos humanos, o memorável; legitimar ou deslegitimar; desconstruir, reconstruir, construir sobre boas ou sobre falsas bases os destinos de cada pessoa, na infância, adolescência, adultez, velhice, no decurso de sua existência efêmera mas, infinitamente, sua. 

Nesta era de pós-verdade, de “tempos incertos”, o IX CIPA direciona a reflexão para as noções de “democracia, memórias, utopias”, com base nos pressupostos que direcionam estudos e pesquisas com narrativas da experiência vivida, para problematizar o que é possível fazer com elas e o que se perderia sem elas. Assim, a temática do Congresso, no prolongamento das edições anteriores, objetiva privilegiar discussões que tomam como centralidade a democracia em diálogo com memórias e utopias, inscritas em experiências vividas e narradas por adultos, jovens e crianças, em diferentes países, e nos mais diversos contextos. Admite-se por princípio que o exercício reflexivo do ato de narrar a experiência vivida oferece possibilidades críticas e autocríticas tanto de narrativas hegemônicas, quanto de resistência social. A escuta é primordial para a democracia e a inserção da palavra de cada pessoa é imprescindível na defesa dos direitos humanos, existenciais, sociais, pessoais, espirituais, científicos, profissionais, estéticos e éticos. 

O aprofundamento da temática lançada pelo IX CIPA se fará na diversidade dos seus sete eixos que focalizam dimensões epistemológicas e metodológicas da pesquisa (auto)biográfica em educação; espaços formativos, memórias e experiências vividas não apenas na vida adulta, mas também na infância, na juventude; perspectivas de gênero, diversidades e de diálogos intergeracionais sob a forma de diversas tramas narrativas, fílmicas, digitais, históricas, literárias e artísticas, como modos de tomada de consciência, de resistências e de empoderamento, mas também de construções de possíveis utopias em defesa da democracia, da memória, da história e de experiências individuais e coletivas. 

Dentro deste espírito de reflexão e em nome das Comissões Organizadoras do IX CIPA, da Presidência do Congresso e Presidência da BIOgraph, manifestamos nossos votos de Boas-Vindas à Brasília e à UnB e expectativas de estimulantes trocas.

 

Rodrigo Matos de Souza                         Jorge Luiz da Cunha
  Presidente do IX CIPA                            Presidente da BIOgraph